sábado, outubro 28, 2006

oh la la!

Pode-se dizer que a França tem tradição na literatura. No retrospecto, uma série de craques saíram de lá: Zola, Maupassant, Flaubert, entre outros e sem falar de Proust, o gênio da raça. Mas ultimamente as coisas não têm sido boas e a terra dos comedores de queijo parece ter perdido a mão na criação de bons escritores. É bom lembrar nesse ponto que Paulo Coelho ganhou lá uma série de condecorações e prêmios literários; isso dá uma boa mostra de como anda o nível.

Verdade que há exceções, especialmente uma com sobrenome difícil de escrever -- não é exatamente unanimidade, mas um dos poucos autores franceses recentes de projeção internacional.

Então eis que a mais nova sensação da literatura na França é um americano, Jonathan Littell, que escreveu em francês Les Bienveillantes. Segundo se repete por aí, o sucesso foi tanto que a Gallimard, editora do livro, teve que usar parte do papel que estava reservado para Harry Potter para imprimir mais cópias. Não bastasse isso, Littell ainda está arrebanhando prêmios na própria terra de Molière.

Numa dessas coincidências sinergísticas e serendipitosas que acontecem na Internet, li sobre ele no blog Todo Prosa e logo depois apareceu um post de Pierre Assouline sobre o prêmio da Academia Francesa. A princípio parece que o cara deve ser bom mesmo, para ser premiado por lá, mas lembre: Paulo Coelho também ganhou prêmios.

Mesmo assim, fiquei com vontade de comprar o livro. Mas é enorme e sai caro. A edição brasileira deve ser mais barata, mas -- me chamem de metido, eu mereço -- eu fico com pena de comprar um livro traduzido quando tenho condições de ler no original. Coisa que eu ainda não posso fazer com os livros de Orhan Pamuk, que eu já achava interessante antes de ganhar o Nobel.

segunda-feira, outubro 23, 2006

Perdidos

Finalmente comecei a tirar o atraso em Lost. Poderia fazer como Bruno e dizer que quando eu comecei a assistir ninguém conhecia, e eu baixava os episódios antes de passarem na TV aqui, e que depois virou moda e todo mundo passou a ver. Mas não. Acontece que eu parei do meio pro fim da primeira temporada e só vim voltar a ver agora há pouco.

O fato é que eu estava lendo algo sobre a série na Internet, e descobri que a idéia inicial surgiu porque alguém na emissora queria uma série baseada no reality show Survivor, que é a versão americana do No Limite que passava na Globo. Lá nos EUA faz muito sucesso, diferente daqui. Então Lost é na verdade uma versão ficcional de Survivor, só que o interessante é que Lost parece mais real do que Survivor, paradoxalmente. No reality show todo mundo sabe que é um jogo, que as pessoas estão perdidas na selva mas qualquer coisa tem ambulância, helicóptero e etc por perto. Soube até que os competidores iam para o "conselho" (acho que era esse o nome, quando eles se reuniam para eliminar alguém) em uma van com ar-condicionado e tudo. Difícil acreditar que essas pessoas estão correndo perigo. Já em Lost aqueles personagens estão realmente perdidos lá, e em perigo, e às vezes morrendo. Quando é que alguém temeria pela vida de um participante de No Limite?

Numa época que parece valorizar mais a realidade, seja lá o que for isso -- vide o aumento de popularidade dos documentários e reality shows, e as vendagens crescentes de livros de não-ficção -- Lost me faz lembrar que a ficção pode ser mais real que a realidade.

sexta-feira, outubro 20, 2006

Dica de música

Escutem a faixa 2 do terceiro álbum do Metallica. Principalmente o refrão.

sábado, outubro 14, 2006

Blog à milanesa

No 6boca o post mais novo é sobre blogs, especificamente comentando algumas receitas para tornar um blog conhecido. Os conselhos são até bons para quem está procurando notoriedade e fama no meio, mas isso é a exceção. Alguns estudos recentes -- por exemplo, este da Pew Internet -- indicam o que qualquer um que já tenha passado um tempo lendo blogs sabe: que a maioria dos blogueiros não procuram a fama, mas apenas uma forma de se comunicar com pessoas próximas, geralmente dentro de uma comunidade informal constituída por outros blogueiros. Quem visita um blog de uma dessas comunidades informais vê logo links para todos os outros blogs do "grupo", e é assim, em panelinhas, que se organiza a tal blogosfera. Nesse caso os conselhos são desnecessários, e cada um faz o que quiser.

No final das contas isso é o mais importante: um blog é uma forma para que qualquer pessoa possa se expressar como quiser, seja revelando detalhes íntimos da sua vida sob um pseudônimo, escrevendo comentários sobre tendências recentes, postando letras de música ou mesmo receitas. Na verdade acho que isso está em falta nos blogs: já vi muita letra de música, mas não lembro de alguma vez ter visto uma receita de comida.

O que me dá idéia para mais um meme daqueles que se repetem por aí: cada pessoa posta uma receita, escolhida entre as comidas que ela mais gosta, e indica mais 3 blogueiros para fazer o mesmo. Em pouco tempo os interessados poderão compilar uma coletânea de receitas para durar anos inteiros, considerando a explosão exponencial desse esquema de pirâmide (uma pirâmide do bem, note-se). Recém-casados ou recém-saídos da casa dos pais, tomem nota!

segunda-feira, outubro 09, 2006

Incidentalmente

Provar que P=NP (ou não) pode mesmo resolver muitos problemas na vida de uma pessoa.

terça-feira, outubro 03, 2006

Um novo protocolo para compras e vendas

No mundo moderno o tempo é curto, e tempo é dinheiro, logo o dinheiro é curto. Precisamos agilizar todos os processos para evitar desperdícios de tempo. Um homem hoje chega numa loja e a coisa se desenrola mais ou menos assim: a vendedora fala

- Boa noite.
- Boa.
- Em que posso ajuda-lo?
- Você poderia pagar minha dívida com a companhia telefônica, mas isso não vem ao caso.
- É, não vem...
- Ah, você tem horas? Preciso saber se estou atrasado.
- São 16:42. Só isso mesmo?
- Não, não, tinha algo mais... que loja é essa mesmo? Eu estava aqui no corredor do shopping e pensei em entrar, mas esqueci o que queria comprar.
- Essa loja é...
- Ah sim! Lembrei. Você tem calcinhas de renda? É que eu preciso comprar um presente para minha namorada, e pensei em algo que poderia ser útil aos dois... ei, não pense besteiras, é só que eu adoro ve-la com calcinhas de renda.
- Sim, naturalmente. Por aqui, senhor.

É óbvio que precisamos melhorar este processo. Tanto tempo perdido, e você ainda tem que se justificar para a engraçadinha da vendedora. Pensando nisso, o Instituto NEWSPEAK de Pesquisa em Comunicações Inter-Pessoais encaminhou às autoridades relevantes uma proposta para padronizar o protocolo de comunicação entre compradores e vendedores, um protocolo que otimiza o tempo gasto nestas negociações e ainda preserva a privacidade entre as partes.

O protocolo é simples e será apresentado por meio de exemplos. Ao se encontrarem, o vendedor não fala nada. O comprador anuncia apenas aquilo que quer comprar. O vendedor encaminha-o até o produto ou a porta da loja, conforme o caso. Ou seja, o mesmo homem chega para a vendedora e diz

- Calcinhas de renda?

E tudo se resolve, por mais que a vendedora ache engraçadíssima a imagem do homem vestido com uma calcinha de renda. O vendedor terá uma cota de 10 palavras para usar em casos de extrema necessidade. Note que não é necessária a clássica pergunta "qual será a forma de pagamento?'' pois o protocolo prevê que o comprador deve simplesmente mostrar como pretende pagar, ao que o vendedor responde negativamente ou positivamente com a cabeça; o processo se repete até que seja encontrada uma forma de comum acordo ou o comprador se retirar sem levar o produto. A cota é importante não só para otimizar o processo, mas também para eliminar o uso da famosa lábia de vendedor, evitando que você vá comprar uma calcinha de renda e saia levando uma calcinha ornada com diamantes para dar de presente nas bodas de platina.

Isso resolve a maioria dos casos, mas algumas situações apresentam complicações cuja resolução ainda está em pesquisa. Por exemplo, profissionais do sexo e psicoterapeutas. Para os primeiros, além do desenvolvimento de um código que evite que o cliente diga coisas constrangedoras como "boquete?'' numa calçada pública, a cota de palavras traz dois outros problemas: primeiro, alguns clientes gostam que seu/sua acompanhante "fale sujo'' para esquentar a transação; segundo, ainda está em estudo se os gemidos, gritos, sussurros, oohs, aahs e oh-yeses do garoto ou garota de programa devem contar como palavras na cota. O problema dos terapeutas é parecido, já que alguns clientes gostam de ouvir opiniões ou conselhos; entretanto, o protocolo na sua forma atual já é totalmente compatível com psicanalistas freudianos.

Por último, vale mostrar que o protocolo para policiais e políticos é muito simples, embora um tanto invertido. O comprador deve apenas perguntar:

- Escrúpulos?