sábado, dezembro 30, 2006

Paradoxos, escolhas e a felicidade

Ter escolhas é bom, não? Mais opções significa, em geral, a liberdade de escolher entre várias possibilidades. E isso é bom. Ou não?

Acredito que ter escolhas é quase sempre considerada uma coisa boa. Eu sempre pensei assim. Mas parece que não é o caso. No livro The Paradox of Choice: Why More is Less (O Paradoxo da Escolha: Por que Mais é Menos), o psicólogo americano Barry Schwartz defende que a proliferação de escolhas, na verdade, traz mais angústia e ansiedade que sensação de liberdade. Mais, nesse caso, é menos. Acho que as pessoas estão descobrindo isso na prática.

E a última do livre-arbítrio, souberam? Parece que ele não existe. Então, de toda forma, quaisquer escolhas são apenas ilusórias, e ter muitas possibilidades pode causar angústia justamente porque, no fundo, nós não escolhemos nada. O cérebro e seus neurotransmissores funcionam como um relógio, e o mecanismo fica sobrecarregado com muitas opções.

Dessa forma, melhor então que não tenhamos escolha na véspera de ano novo. Porque não temos. Todo mundo tem que ser feliz. Se você não está numa festa bombando, e se divertindo como nunca na vida, há algo de errado com você. Mas já que você não tem escolha, pelo paradoxo da escolha, você deve ficar feliz, certo?

Enfim, só me resta desejar Feliz Ano Novo. Desejo supérfluo, aliás, já que vocês não têm escolha. Mas eu, que não tenho livre-arbítrio, desejo mesmo assim.

domingo, dezembro 24, 2006

Luzes

Fui abduzido ontem. Achei que a nave era alguma decoração de natal, e depois que percebi a verdade não tive muito tempo para escapar.

Nada de mais, nenhum contato imediato de enésimo grau, nada de sondas no meu corpo, chips ou operações estranhas. Queriam eles saber qual é a dessas festas periódicas aqui embaixo. Falei que uma tinha a ver com uma festa da religião dominante mas que na verdade tinha origem em festivais mais antigos ou coisa assim, e que a outra era para comemorar um ponto arbitrário no tempo. Eles não entenderam muito bem, o que provocou uma troca de notas e observações culturais dos dois lados. No final das contas eles continuam achando ridículo tudo isso, e que seres evoluídos devem festejar o dia em que o grande Flatjwokullo comeu uma srvwbnqn de proporções cósmicas e a flatulência resultante gerou as nuvens de matéria e nebulosas que mais tarde deram origem às galáxias, estrelas, sistemas solares e planetas, enfim, todo o universo conhecido.

Nesse momento sobressai o princípio diplomático que determina a necessidade de concordar com quem tenha acesso aos lasers, phasers, torpedos fóton ou sei lá qual eram as armas deles, e viva o grande Flatjwokullo!

PS: aqui um pequeno detalhe geek sobre o post. Olhem no final.

segunda-feira, dezembro 18, 2006

Pequena nota metodológica

Não acredito que alguém tenha prestado atenção nisso, mas há alguns dias coloquei uma coisa no blog que planejava há um tempo. Na coluna aí ao lado tem uma seção de links "transitórios", coisas legais que eu vi por aí e vou adicionando, enquanto retiro outros de vez em quando. E as atualizações nos links provavelmente vão ocorrer mesmo quando não houver novos posts, então quem não tiver nada o que fazer e chegar aqui pode conferir mais endereços para jogar tempo fora.

Mais recente: Sexual Consent, curta de Jason Reitman, o mesmo diretor de Obrigado por Fumar.

quarta-feira, dezembro 13, 2006

História com moral

Quando começa a passar mais de uma semana sem posts, eu sinto a necessidade de vir escrever alguma coisa, qualquer coisa, para não deixar de atualizar. Sim, é estranho. Como se algo muito maior do que um mero blog perdido em um recanto obscuro da internet dependesse disso. Tenho refletido sobre o assunto, mas nenhuma resposta se apresentou até então. Quem sabe depois.

Mas hoje então convido-os para um momento de reflexão, um pouco de filosofia, se me permitem. As grandes perguntas são sempre as mesmas. O que queremos, o que buscamos nesta existência? Ou seja, qual o sentido disso tudo?

Outro dia, estava meio sentado meio deitado no sofá, lendo O Ser e o Nada. De vez em quando olhava pela janela, de onde dava pra ver o teto de um prédio em frente. Neste teto se reúnem alguns pombos, que ficam lá olhando para alguma coisa à esquerda, no chão. De repente, saem todos um atrás do outro e mergulham na direção para onde olhavam. Devia ser comida, imagino. Depois de um tempo vendo isso, voltei ao livro, mas não demorei muito. Voltei a olhar os pombos. E isso se repetiu até que, não passados nem 30 minutos, acabei dormindo.

Abri os olhos e estava no chao, deitado ao lado do prédio dos pombos. E tudo parecia gigante perto de mim, como se eu tivesse encolhido, ou tudo tivesse crescido enormemente. Olhei para cima, para o teto do prédio, e os pombos estavam olhando pra mim. Alguma coisa não ia bem. Comecei a sentir a ansiedade tomando conta, os segundos folgavam a passar e eu podia ver cada movimento dos pombos em detalhes: um cisco, outro, as garras fechando na quina do teto para tomar apoio, o corpo se inclinando, em preparação para o mergulho... e então veio o primeiro. Logo depois, se seguiram outros, em uma formação de V. E não havia dúvidas, eles vinham em minha direção. O surto de adrenalina cuidou para que os momentos seguintes parecessem um filme; aliás, pensando agora, me lembrou algumas cenas desse King Kong novo. Consegui rolar para o lado e desviar do primeiro, levantei, esquivei-me de outro, pulei por cima de um que vinha mais baixo e se esborrachou no chão, no alto do pulo agarrei na pata de outro, que com o peso foi caindo, coloquei os pés no chão, dei impulso ao pombo que ainda agarrava e usei-o para bater em mais um, e por fim consegui enganar dois deles para esquivar no último momento e faze-los se chocarem um com o outro. Então corri, com todas as forças que nem imaginava ter.

Neste momento parei para pensar, e minha vida nunca tinha feito tanto sentido. Sim, eu estava vivo, e a questão que antes me assolava agora parecia irrelevante. Foi aí que eu me dei conta que o episódio tinha me ensinado algo: não tentar mais ler O Ser e o Nada. O livro é pesado, chato, dá sono e induz pesadelos.

segunda-feira, dezembro 04, 2006

Vozes

Sabe, esse filme A Fonte da Vida, eu me identifiquei com ele. Principalmente com o personagem que viaja lá na orbe, com a árvore e tudo, em direção a Shibalba. É que eu também passo boa parte do meu tempo conversando com minhas mulheres imaginárias. Na verdade mais do que ele, que só trocava uma ou outra palavra. Eu não. Converso mesmo, longas conversas, às vezes por horas. Fazer o quê, se as mulheres da minha vida não querem saber de mim?

Claro, elas não são muito de contestar, ou de duvidar de mim, exceto quando querem provocar. Isso a princípio é bom, mas tem horas que a suspension of disbelief fica prejudicada, porque qualquer pessoa sabe que mulheres não vão passar tanto tempo sem contestar. Pessoas em geral, é verdade. Mas ontem mesmo Úrsula não concordou com minha opinião sobre o final de Os Infiltrados. Eu achei meio sem sentido, mas ela me diz que gostou. Já é um avanço, porque concordar até no gosto para filmes acaba ficando muito chato.

Ultimamente eu tenho tido alguns problemas por continuar conversando com elas enquanto dirijo. É, não tem muita diferença de estar conversando com outra pessoa no carro, mas eu me empolgo às vezes e pronto, quando vejo estou em outro caminho ou quase subindo no meio-fio. Mas compensa, principalmente quando se passa muito tempo em um carro.

Há alguns dias tenho até conseguido ver a Juliana. É muito mais agradável falar com alguém que se pode ver, claro. Tem gente que pode se preocupar, achar que eu estou ficando louco, mas não há motivo. Se eu sei que é tudo só na minha cabeça, então não é loucura, eu acho. Tem homens aí que vivem casados com bonecas, e eu é que sou louco? Obrigado por me lembrar dessa, Úrsula. Mas agora vocês me dão licensa, Úrsula e o resto, que a campanhinha acabou de tocar. Deve ser a Juliana, nós marcamos um jantar para hoje. Não, Úrsula, nada de ciúmes, hein? Eu também te amo. Quando você resolver aparecer também a gente pode marcar um jantar. Agora vai, mais tarde você pode ficar conversando comigo na cama, antes de dormir. Tá. Beijo. Ok, desculpem por isso, mas eu tenho que ir mesmo. Até mais.