sábado, dezembro 30, 2006

Paradoxos, escolhas e a felicidade

Ter escolhas é bom, não? Mais opções significa, em geral, a liberdade de escolher entre várias possibilidades. E isso é bom. Ou não?

Acredito que ter escolhas é quase sempre considerada uma coisa boa. Eu sempre pensei assim. Mas parece que não é o caso. No livro The Paradox of Choice: Why More is Less (O Paradoxo da Escolha: Por que Mais é Menos), o psicólogo americano Barry Schwartz defende que a proliferação de escolhas, na verdade, traz mais angústia e ansiedade que sensação de liberdade. Mais, nesse caso, é menos. Acho que as pessoas estão descobrindo isso na prática.

E a última do livre-arbítrio, souberam? Parece que ele não existe. Então, de toda forma, quaisquer escolhas são apenas ilusórias, e ter muitas possibilidades pode causar angústia justamente porque, no fundo, nós não escolhemos nada. O cérebro e seus neurotransmissores funcionam como um relógio, e o mecanismo fica sobrecarregado com muitas opções.

Dessa forma, melhor então que não tenhamos escolha na véspera de ano novo. Porque não temos. Todo mundo tem que ser feliz. Se você não está numa festa bombando, e se divertindo como nunca na vida, há algo de errado com você. Mas já que você não tem escolha, pelo paradoxo da escolha, você deve ficar feliz, certo?

Enfim, só me resta desejar Feliz Ano Novo. Desejo supérfluo, aliás, já que vocês não têm escolha. Mas eu, que não tenho livre-arbítrio, desejo mesmo assim.

4 comentários:

Anônimo disse...

okay. mas tu vai ficar feliz onde?

Mythus disse...

Esse papo de Foucault e Bourdieu e de que tudo é construído socialmente parece minha namorada falando.

No limite, somos programados para ser isso que somos, mas se você for programado para ser infeliz e miserável, o máximo que você pode se sentir, não é feliz, mas sim bem-sucedido no seu papel de mal-sucedido.

Seria um sentimento tortuoso de realização.

As coisas que são construídas socialmente deveriam ser, necessariamente próprias daquela sociedade. Havendo consciência disso, poderia-se então combater aquela construção ou viver à margem da sociedade o que, no caso, não é uma escolha (sair do grupo), restando tão-somente o cumprimento do seu papel.

Eu me recuso a acreditar que eu não tinha outra opção que não fosse cursar o 1º e o 2º grau, fazer universidade, depois concursos, e depois...

Mas concordo que vivemos na ditadura da felicidade, da beleza e de todos os altíssimos padrões de sucesso e auto-realização = uma verdadeira incoerência.

O tempo seria uma conveção social também, então é até pouco importante dizer que faltam menos de 20h pra 2007.

Pois independente de convenções sociais, desejo para todos nós que alcancemos a satisfação pessoal por nossas vidas.

Bruno R disse...

nao venha querer confundir nossas cabeças e estragar nossa felicidade. bah! eu vou parar de visitar esse blog. >:(

Mythus disse...

E aquele papo de "Quando começa a passar mais de uma semana sem posts, eu sinto a necessidade de vir escrever alguma coisa, qualquer coisa, para não deixar de atualizar. Sim, é estranho. Como se algo muito maior do que um mero blog perdido em um recanto obscuro da internet dependesse disso."?

# yum update ; yum -y upgrade